Seu Bruno e a Pedagogia do Afeto
Paiva Netto
Um dos mais significativos sentimentos que
nós, seres humanos, podemos expressar é a gratidão. Sempre que me indagam sobre
o início de minha vida intelectual, cito a presença e o incentivo de meu
saudoso pai, Bruno Simões de Paiva
(1911-2000), como fatores principais para o gosto que adquiri pela leitura e
pelo conhecimento.
São marcantes na minha memória os períodos em
que ele, quando podia chegar mais cedo em casa, abria os livros de história,
literatura etc. e os lia para Lícia
Margarida (1942-2010), minha irmã, e para mim. Além do seu emprego, ainda
realizava vários outros serviços. Mas se esforçava para nos proporcionar esses
momentos de estudo no lar.
Quão prazeroso era dialogar com ele, homem de
cultura e simplicidade invejáveis! Com o deleite de um professor zeloso, não
somente fazia a leitura como também procurava, numa linguagem apropriada para
as crianças, deixar o bom ensinamento. Um deles me ficou indelevelmente
registrado na mente. Assim resumo algumas horas de bate-papo conosco: “José, as minorias atrevidas ou bem
estruturadas é que geralmente agitam ou até mesmo comandam. Exemplo: um número
menor de egípcios bem articulados e em seu próprio território dominou uma
quantidade muito maior de hebreus, sem contar mulheres, crianças e animais,
porque era como se fazia o censo de certas populações na Antiguidade. (...) Até
que surgiu Moisés, o libertador
deles”.
Essa é a maneira de que me lembro das
palavras de meu velho, pois ouvi essas considerações quando tinha menos de 10
anos de idade, à noite. Naquele tempo, década de 1940, às 22 horas, para uma
criança, quase que correspondia à madrugada nos dias de hoje.
Formação Cultural
Meu pai possuía um processo bem pessoal de
educar. Os livros que me presenteava sempre acompanharam o meu crescimento.
Explico: os volumes dispostos na estante lá de casa eram separados por assuntos
correspondentes à minha idade e estatura. Desse modo, só alcançava o tomo
pertinente aos temas apropriados para o meu desenvolvimento intelectual.
Ainda na minha meninice, a primeira notícia
pela qual tive conhecimento da Bíblia Sagrada, em particular a Boa Nova de
Jesus, veio por intermédio também de meu pai. Ele me falou sobre uma comovente
história contada ao povo pelo Cristo de Deus: a Parábola do Bom Samaritano. E a
leu para mim. A passagem encontra-se no Evangelho, segundo Lucas, 10:25 a 37.
Valores que herdamos
Ao longo desse tempo à frente das ações
solidárias da Legião da Boa Vontade, tendo delineado a linha educacional da
Instituição, ao estabelecer, entre outras diretrizes, a Pedagogia do Afeto para
o educando até os 10 anos, percebo o quanto fui influenciado pela educação que
recebi de seu Bruno.
A tenra idade é argila esperando ser moldada
pelo cinzel do comprometimento com as futuras gerações, talhando o caráter e a
personalidade de uma liderança nova, firmada nos preceitos universalistas do
Cristo Ecumênico. Sim, do Divino Estadista! Aquele que está acima de contendas
religiosas, pois Seus ensinamentos, como Educador Celeste, permeiam as mais
diversas culturas e tradições que, pelos milênios, nortearam a evolução do ser
humano na face da Terra.
Esse meu testemunho é prova cabal do
imprescindível estímulo que os pais ou responsáveis devem, por amor, ofertar
aos filhos. Valores como respeito, solidariedade, postura ecumênica perante as
diferenças, espiritualidade são retirados inicialmente do exemplo dos pais e
têm sua extensão na habilidade dos educadores em desenvolver, além dos
potenciais do intelecto, as virtudes de seus alunos.
Dedico, à reflexão de todos, esta passagem
contida no Antigo Testamento da Bíblia Sagrada, em Provérbios, 22:6: “Educa a criança no caminho em que deve
andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele”.
Grato, seu Bruno.
José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.